O deslocamento nas grandes cidades é motivo de preocupação e estresse crescente nos últimos tempos. E não é para menos, já que o número de veículos circulando nas ruas só aumenta e as políticas públicas não acompanham esse crescimento.
Por isso, olhar estrategicamente para mobilidade se torna cada vez mais necessário. Para isso, conhecer soluções que são referências mundiais e também suas falhas, podem nos auxiliar a construir um futuro diferente para as nossas cidades.
Neste artigo, vamos falara do plano de mobilidade urbana de Curitiba. Embora precisem de renovação, as soluções desenvolvidas no trânsito da capital paranaense fizeram dela um modelo para mais de 250 cidades ao redor do mundo. Mas, como isso começou?
Como Curitiba se tornou referência em mobilidade urbana?
Na década de 1970, durante a gestão de Jaime Lerner, a mundialmente conhecida rede integrada de transporte público de Curitiba driblou os desafios estruturais da cidade e implantou um pioneiro modelo com prioridade no embarque rápido dos passageiros — o BRT. O sistema proporciona o deslocamento de pessoas por meio de uma extensa frota de ônibus monitorada por câmeras e mecanismos de geolocalização em tempo real.
Desde a criação do primeiro ônibus expresso, presenciamos a inclusão dos atuais veículos híbridos, passando pelos biarticulados — desenvolvidos em 1992 — com uma capacidade para mais de 200 pessoas.
O desenvolvimento da cidade foi impulsionado com suporte em um sistema trinário, composto por faixas exclusivas para ônibus e estações-tubo. Estas permitem o embarque eficiente facilitado pela cobrança antecipada da passagem.
Próximo às avenidas, houve incentivo à construção de prédios que priorizassem o uso do transporte público. Assim, os edifícios residenciais e comerciais podem ser acessados a poucos metros das estações-tubo.
Além disso, próximo aos corredores exclusivos para ônibus, existem vias de rápido deslocamento para os automóveis, percorrendo o trajeto centro–bairro. São quatro faixas de cada lado em um mesmo sentido. O objetivo é descongestionar o trânsito.
Hoje, Curitiba conta com 329 estações-tubo distribuídas por 14 municípios da região metropolitana e 21 terminais de ônibus. Ao todo, são 81 quilômetros de faixas exclusivas.
A intenção era conceber um sistema tão eficiente quanto os metrôs, mas com um custo bem inferior. Assim, com a criação do primeiro sistema de transporte rápido de ônibus do mundo, Curitiba se transformou em um modelo de planejamento urbano, espalhando a ideia para mais de 200 cidades pelo mundo afora.
No entanto, o tempo passou e os investimentos no revolucionário projeto não acompanharam as mudanças com a mesma velocidade do sistema implantado em 1974. De lá para cá, a deterioração foi visível, com veículos lotados, uma frota sucateada e, quem diria, lentidão!
Para piorar, em 2015 foi decretado o fim da tarifa única, o que passou a aumentar o valor da passagem em alguns trechos e o tempo de deslocamento dos passageiros. Essas mudanças impuseram novos e trabalhosos obstáculos.
Quais são os desafios enfrentados para melhorar a mobilidade urbana?
Está muito complicado manter o desenvolvimento dos grandes centros urbanos limitando os prejuízos ao meio ambiente. Em 2013, os protestos feitos por milhões de pessoas nas ruas do país tiveram início depois do anúncio do aumento das tarifas de transporte público, aliado à percepção da baixa qualidade dos serviços prestados aos usuários. Apesar da referência positiva do sistema de transporte, Curitiba precisa lidar com o desafio de continuar implementando inovações visando a melhoria do serviço.
Hoje, sabemos que a cidade é mundialmente reconhecida pela criação do BRT. Mas, em contrapartida, Curitiba também é campeã quando se fala de transporte individual. De acordo com o IBGE e o DENATRAN (Departamento Nacional de Trânsito), Curitiba é a cidade que lidera o ranking de capitais com mais veículos por habitante, sendo também a quinta cidade com maior número de carros no país.
O uso individual do automóvel só agrava o problema, já que contribui para o aumento da poluição e dos congestionamentos, o que nos convida a buscar alternativas para melhorar o trânsito, como por exemplo, o incentivo ao transporte ativo (bicicleta ou a pé) e às caronas. Esses são os principais elementos que tornam urgente a tarefa de ajustar o plano de mobilidade urbana de Curitiba à realidade atual.
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