Por que moramos longe do trabalho?

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27 abr 2017

O paulistano leva cerca de 3 horas se deslocando entre casa e trabalho todos os dias. O problema está no transporte público ou na infraestrutura da cidade?

Se a mobilidade urbana é a bola da vez, fazer escolhas conscientes de deslocamento já faz parte do dia a dia. Afinal, o que rege as nossas decisões: o custo, o conforto do trajeto, a distância entre um ponto e outro ou tudo isso? O que faz com que um trabalhador gaste, em média, 3 horas no trânsito todos os dias para o fazer sempre o mesmo percurso?

A arquiteta e urbanista Ermínia Maricato costuma propor o seguinte exercício: “imagine uma casa de classe média: 2 quartos, 3 banheiros, cozinha e sala, localizada no centro de São Paulo, quanto custaria? Menos de um milhão de reais, com certeza não. Agora, imagine a mesma casa localizada no extremo da zona leste ou em Franco da Rocha, quanto custa? Dez vezes menos. A mesma casa! Este é o negócio da cidade: o preço da localização”, afirma.

Região central possui o preço mais caro por m² para compra e aluguel de imóveis. Fonte: Mapa Valor do Solo – Município em Mapas. São Paulo, 2008.

E é justamente na região central que se concentram 65% dos empregos da cidade, totalizando 6,4 milhões de oportunidades, segundo pesquisa Origem Destino do Metrô de São Paulo de 2012. “As pessoas precisam se locomover para muito longe de onde elas moram, seja para trabalhar, para estudar, para ter acesso à saúde, mesmo para fazer compras, os shoppings se concentram na região do meio ou do centro da cidade”, sintetiza o arquiteto e urbanista João Chiavone da Diagonal Transformadora de Territórios.

Mas por que isso acontece?
O deslocamento parece girar em torno de dois grandes temas: emprego e ocupação de solo. Segundo João, os empregos formais estão localizados no chamado quadrante sudoeste, nas regiões da Sé, República, Santa Cecília, Berrini, Paulista e Faria Lima enquanto grande parte da população mora exatamente fora desse quadrante.

“Claro que isso acarreta um grande problema de mobilidade, mas não se resolve esse problema pelo transporte em si, não adianta melhorar o metrô, colocar mais ônibus nas ruas, fazer mais ciclovias se vamos ter que continuar transportando 4 milhões de pessoas do centro para as periferias e vice-versa todos os dias. O metrô nunca vai dar conta disso”, afirma João.

Neste sentido, o Plano Diretor Estratégico (PDE) da cidade aprovado em 2014 propõe a aproximação entre emprego e moradia. “A ideia é espalhar os empregos pelas margens da cidade, além de trazer as pessoas para morar nesse quadrante sudoeste. Só que aí a gente esbarra num problema fundamental que é o preço da terra”, complementa.

Essa condição entre moradia e trabalho impacta diretamente na qualidade do trânsito. Segundo levantamento da WRI Brasil, em 2015 50% dos deslocamentos realizados nas cidades eram de casa para o trabalho. Ou seja, além de perder tempo no trânsito, o colaborador já chega ao trabalho cansado e desgastado pelo longo trajeto.

“A gente se pergunta por que essa pessoa [que vai trabalhar de carro] está gastando gasolina, pagando IPVA, estacionamento, pegando trânsito para ir de carro até um lugar sozinha? O que eu acho é que a gente tem que fazer é ofertar no transporte público o mesmo conforto e comodidade que as pessoas enxergam no carro”, defende João.

Créditos: Creative Commons

As políticas de incentivos adotadas pelas empresas (vale transporte, vale combustível, vagas em estacionamento, jornada de trabalho flexível, fretados, entre outros) contribuem significativamente para a decisão pessoal sobre qual transporte será utilizado para o deslocamento dos colaboradores de casa até o local de trabalho.

Quem resolve esse problema?
Se metade dos deslocamentos são feitos para o trabalho, então pelo menos metade da solução para o trânsito pode estar em políticas corporativas de mobilidade mais sustentáveis. Políticas que incentivam o trabalho home office, o vale transporte sem desconto em folha de pagamento ou o compartilhamento de carros podem diminuir de 10% a 24% o número de viagens com um único ocupante, segundo um guia de orientações de viagem para o trabalho publicado pelo conselho da cidade de Wokingham, no Reino Unido em 2011.

As vantagens da carona, por exemplo, vão desde o compartilhamento de custos de viagem até companhia e possibilidade de networking, reduzindo o estresse causado pelo árduo deslocamento pelas grandes cidades brasileiras. Não à toa, 83% dos entrevistados pela pesquisa do WRI Brasil citada anteriormente veem a carona como uma alternativa de deslocamento viável e desejável, à frente de outras alternativas.

Por muitos anos, a solução  para os congestionamentos foi construir mais vias capazes de escoar a demanda, quando ao contrário do imaginado, a prática acabou incentivando a compra de automóveis e piorando o trânsito! Num século de profundas mudanças tecnológicas, econômicas e climáticas buscar alternativas que diminuam o impacto dos deslocamentos urbanos soa não apenas como uma decisão sensata e economicamente viável por parte das empresas, como também bastante responsável com o meio ambiente e com a cidade.

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